Guedes é sobrenome poderoso aos ouvidos. Oh, se é.
Foi Beto Guedes, nessa fotona aí embaixo, o responsável.
Muito antes que se abrissem as portas do clube famoso, aos 18 anos, o adolescente de Montes Claros/MG compôs (com Fernando Brant, então aos 23) a eterna Feira Moderna. A canção foi defendida pelo Som Imaginário no V Festival Internacional da Canção em 1970.
Não ganhou, mas nem por isso se perdeu.
Clique para ouvir Feira Moderna com Som Imaginário
Falemos mais dela outro dia.
Citei apenas para reforçar o talento que aflorou em um Beto ainda menino, fruto de uma tradição familiar que já se manifestava há pelo menos duas gerações. O avô paterno, Seu Cazuza(!), era sanfoneiro em Riacho do Santana, região centro-sul da Bahia.
Godofredo Guedes em seu atelier: artes plásticas e música
A veia musical seguiu pulsando na safra de Guedes seguinte. Seu Godofredo, o Gegê, também nasceu naquele pedacinho colado com Minas, em 1908. Fez de tudo. Foi farmacêutico, pintor, luthier. Ainda jovem, começou a tocar nos bailinhos em Montes Claros. Ali se instalou em 1935, mudando-se para BH nos anos 1960. Com a esposa, Dona Júlia, teve oito filhos. Um deles, Alberto de Castro Guedes.
O Beto.
O Beto.
Lô Borges, Helson Romero, Milton Nascimento e Beto Guedes: a turma da esquina
Nesse meio tempo, compôs valsas, chorinhos, sambas, serestas etc. Mas
nunca teve trabalho nenhum que chegasse a grandes audiências. Coube a
Beto, já marcado na história da MPB pelas suas contribuições ao
movimento Clube da Esquina, trazer à luz o que estava escondido de tanta
gente por tanto tempo.
Sobre o pai, Beto deixou o seguinte depoimento no site do Museu Clube da Esquina:
"(...)Comecei a me ater com música ouvindo o Godofredo. Os amigos
dele, no fim de semana, reuniam-se para tocar chorinho, valsa, samba,
samba-canção. E ele tocava clarinete. Eles se reuniam no fim de semana e eu
ficava sapeando eles, escutando. E cresci mais ou menos nesse meio de roda de
choro(...)"
Godofredo e sua clarineta
Num ambiente tão musical, dificilmente Beto não pegaria gosto pela coisa. Não só pegou, como fez fama, e ainda carregou Godofredo com ele em diversos discos da carreira solo.
Costumava incluir uma canção do pai em cada álbum, sempre na última faixa. No primeiro, Página do Relâmpago Elétrico (1977), apresentou o chorinho instrumental Belo Horizonte.
Contracapa do CD de Página do Relâmpago Elétrico
Depois vieram a lindíssima Cantar, seresteira e romântica em Amor de Índio (1978); e, finalmente, o tema desta postagem: minha favorita, Casinha de Palha, gravada em Sol de
Primavera (1980).
A canção principal foi tema de novela da Globo; "Casinha de Palha" fechava o disco
Impossível escapar de uma nostalgia tão inspiradora. Algo que nos transcende e parece retratar os tempos do menino Gegê no sul da Bahia e que mostra também sua arte como letrista. Simples, curta, brejeira, que remete a imagens e aromas campestres o tempo inteiro.
CASINHA DE PALHA
(Godofredo Guedes)
Eu moro numa casinha de palha
Que fica de trás da muralha daquela serra acolá
Eu moro numa casinha de palha
Que fica de trás da muralha daquela serra acolá
De longe ela nos parece arruinada
Mas de perto ela é juncada de baunilhas e manacás
Que fica de trás da muralha daquela serra acolá
Eu moro numa casinha de palha
Que fica de trás da muralha daquela serra acolá
De longe ela nos parece arruinada
Mas de perto ela é juncada de baunilhas e manacás
Adoro a versão do Beto, mas considero a de Paulinho Pedra Azul imbatível (clique para ouvir "Casinha de Palha" com Paulinho Pedra Azul, direto da vitrola).
Com Wagner Tiso, Paulinho gravou um álbum só com choros de Godofredo
Ainda tivemos Godofredo com Noite Sem Luar em Contos da Lua Vaga (1981); e Um Sonho, em
Viagem das Mãos (1984), lançada um ano após a morte dele.
O clã Guedes reunido: música na veia
Muitos vivas a Seu Cazuza, Godofredo, Beto, e aos novos Guedes - Ian, Gabriel, Júlia... todos os que vierem na linha sucessória. Vida longa!
Principal fonte: Blog Musicaria Brasil
Pesquisa: Robson Leite
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