Em 1968, próximo ao auge da ditadura militar no Brasil, Geraldo Vandré apresentava Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (também conhecida como Caminhando) no Festival Internacional da Canção da Rede Globo.
Maracanãzinho lotado: Festival Internacional da Canção 1968
PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES
(Geraldo Vandré - 1968)
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
O paraibano Vandré, formado em direito, militante de esquerda, membro do CPC (Centro Popular de Cultura) e da UNE (União Nacional dos Estudantes), era um crítico feroz dos militares. A música confrontava diretamente o regime, os valores que pregava e como os pregava. Seu tom crítico sobre a sociedade já era conhecido em festivais desde "Disparada", em 1966.
Caminhando ganhou o coração dos estudantes, principal público dos festivais da época. E era considerada favorita. Acabou ficando em segundo lugar. Venceu a belíssima Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim - vaiada pelo público na apresentação final no Maracanãzinho. Vandré defendeu os colegas, ao som de "É marmelada, é marmelada!" e deixou para a história a célebre fase "A vida não se resume aos Festivais".
Multidão enfurecida com o resultado: Vandré pede que não vaiem Chico e Tom
Ziraldo deu nota 10 para Caminhando e 5 para as outras músicas, inclusive Sabiá. “O que ninguém percebeu na época, nem eu, é que a letra de Sabiá era também inconformista, uma canção de protesto. ‘Me deitar à sombra de uma palmeira que já não há, colher a flor que já não há... as noites que eu não queria... anunciar o dia!’ Estava tudo lá, de maneira velada”, recorda. Como muitos, ele viu algo de heroico na composição de Vandré. “Era uma emoção ver aquele cara sozinho naquele palco enorme enfrentando apenas com seu violão a fúria dos militares. Que era imensa naquela época”, observou Ziraldo.
Apenas em 1991, Walter Clark, diretor-geral da Rede Globo de Televisão à época, revelou em sua autobiografia que a direção da emissora recebeu ordens do comando do Exército para que nem Caminhando nem América, América, de César Roldão Vieira, extremamente críticas ao governo, vencessem o festival.
Capa do disco, gravado ao vivo no Maracanãzinho
Em dezembro de 1968, a ditadura militar implanta o terrível AI 5. Vandré, temendo o pior, foge do país. Mas a música vira tema da resistência, cantada em passeatas e outros atos públicos.
Atualmente Geraldo Vandré reside no centro da cidade de São Paulo. Em 12 de setembro de 2010 (dia de seu aniversário de 75 anos), Vandré concedeu no Clube da Aeronáutica no Rio de Janeiro uma polêmica entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto.
Vandré em 2010
Ele criticava o cenário cultural brasileiro e afirmava que seu afastamento da música popular não foi causado pela perseguição sofrida pela ditadura mas, sim, pela falta de motivação para compor ao público brasileiro, vítima do processo de massificação cultural e histórica (clique para ler a entrevista completa).
Confira o áudio original da apresentação de 1968.
De arrepiar.
Referências:
Pesquisa: Robson Leite
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