A música é um hino de amor à vida, realçando momentos com o homem amado, em frases poéticas lindíssimas sobre as belezas do viver. Gracias a La Vida foi gravada pela primeira vez em 1966 por sua autora, a cantora e artista plástica chilena Violeta Parra.
Foi incluída no álbum Las últimas Composiciones, juntamente com outro grande sucesso dela Volver a los 17. Violeta Parra completaria 100 anos de idade em 4 de outubro de 2017.
“Os famintos
pedem pão; chumbo lhes dá a polícia”, canta Violeta em "La Carta"
Tragicamente, foi o último disco de uma carreira brilhante.
Ativista política, folclorista, as canções de Violeta inspiraram as composições de brasileiros como Chico Buarque e Geraldo Vandré. Colocando-se ao lado dos desvalidos, pobres e miseráveis, as letras e toda obra da artista abraçaram a América Latina, às voltas com ditaduras por todos os cantos. O próprio Chile viveria um longo e sangrento período de linha dura no governo de Augusto Pinochet (1973-1990)
Gracias a La Vida foi regravada em 1971 por Mercedes Sosa, em 1974 por Joan Baez e, no ano seguinte, estava no repertório do show Falso Brilhante de Elis Regina (clique para assistir à Elis em cena cantando "Gracias a La Vida" em 1976).
Tornou-se um clássico, distante dos olhos de sua autora.
Após um relacionamento intenso com o o músico suiço Gilbert Favre, 19 anos mais jovem que ela, Violeta Parra sofreu uma grave crise de depressão. Os dois se conheceram em 1960, estiveram num relacionamento que durou até 1965. Um amor desmedido, poderoso, que foi se desgastando.
Fravre e Parra: "Run Run se fue pa`l norte”
No ano seguinte, Violeta compôs "Gracias a La Vida" e dedicou-a a Fravre (clique para ver raras imagens de Violeta Parra e ouvir a gravação dela de "Gracias a La Vida")..
As referência sobre essa paixão são claras na letra, aqui traduzida livremente:
Agradeço à vida, que me deu tanto
Me deu dois olhos que quando abro
Diferencio perfeitamente o preto do branco
E lá no céu, o fundo estrelado
E nas alturas, o homem que eu amo
Agradeço à vida, que me deu tanto
Me deu o dia que em toda a sua amplitude
Pega grilos e canários dia e noite
Martelos, motores, latidos...
E a voz tão terna do meu amado
Agradeço à vida, que me deu tanto
Que me deu o som e o abecedário
Com ele, as palavras que penso que falo
Mãe, amigo, irmão e a luz que ilumina
O caminho da alma de quem estou amando
Agradeço à vida, que me deu tanto
Me deu o caminhar dos meus pés cansados
Com eles caminhei por cidades e campos
Praias e desertos, montanhas e planícies
E pela sua casa, sua rua, seu quintal
Agradeço à vida, que me deu tanto
Me deu o coração que agita seu passo
Quando olho o fruto do cérebro humano
Quando vejo o bem tão longe do mal
Quando vejo o fundo dos seus olhos claros
Agradeço à vida, que me deu tanto
Me deu o riso e o pranto
Assim eu diferencio a felicidade do sofrimento
Os dois materiais que formam meu canto
E o seu canto é o mesmo que o meu
E o canto de todos é o meu próprio canto
Agradeço à vida... Agradeço à vida...
Os dois não viviam mais juntos. Ela foi até a Bolívia, onde ele vivia, numa tentativa de reconciliação. Encontrou Gilbert casado com a indiana Reque Terán. Desde então, mergulhou numa depressão da qual não conseguiu sair.
Clique aqui para saber mais sobre a trajetória política
e artística de Violeta Parra no Blog !No Pasarán!
Violeta Parra cometeu suicídio em fevereiro de 1967, aos 49 anos. Um tiro na cabeça pôs fim à vida de um dos maiores talentos artísticos do continente.
Em 2011, a trajetória de Parra foi lançada no cinema pelas mãos do diretor Andrés Woods (assista a um trecho de "Violeta Se Fue a Los Cielos").
E ainda hoje, um século após seu nascimento, no cinquentenário de sua passagem, ela continua sendo gravada por grandes artistas mundo afora e relembrada por quem tem muito o que agradecer à vida.
A vida nos deu Violeta Parra.
Pesquisa: Robson Leite
Perfeito... Gracias a La Vida é uma canção de agradecimento e ao mesmo tempo de despedida. Emocionante. Ótimo trabalho seu. Sucesso e manter os memoriáveis é sempre importante.
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