A HISTÓRIA DE "JOÃO E MARIA": Valsinha infantil

Uma música que emocionou muita gente nos anos 1970, quando fez parte da trilha sonora da novela global  Dancing Days, de Gilberto Braga. "João e Maria" é daquelas canções sem data, suave e sensível, que grudam na orelha e que aí não dá pra esquecer. Mas letra e música demoraram a se encontrar na linha do tempo.


Sivuca e Chico Buarque: parceria em mais um clássico da MPB



A melodia surgiu da genialidade musical de Severino Dias de Oliveira, o Sivuca. Ele a compôs em 1947, com apenas 17 anos, e costumava tocá-la no acordeon pelos forrós por onde se apresentava ainda na Paraíba. Não tinha letra, era só instrumental.

Bem depois, "João e Maria" chegou aos ouvidos de Chico Buarque em busca de versos.  Chegou numa fita K7. 

Quando soube da época da composição, Chico disse: "Mas isso é de quando eu nasci!" Tomado pelo espírito de compor para crianças - havia gravado o sensacional Os Saltimbancos - fez a letra na mesma onda.

Confira no vídeo acima um depoimento de Chico Buarque sobre "João e Maria"


Estava destinada, a princípio, para ser cantada pela "divina" Elizeth Cardoso.

Em uma entrevista, Chico contou: "A música tinha a minha idade. Quando eu fui fazer, a letra me remeteu obrigatoriamente pra um tema infantil. A letra saiu com cara de música infantil porque, simplesmente, na fitinha ele dizia: 'Fiz essa música em 47.' Aí pensei: 'Mas eu criança...' e me levou pra aquilo. Cada parceria é uma história. Cada parceiro é uma história."


 Apresentação de Sivuca e Chico no programa Bar Academia na extinta Rede Manchete


João e Maria

(Sivuca/Chico Buarque)
1977

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você
Além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava um rock
Para as matinês
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigada a ser feliz
E você era a princesa
Que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país
Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Sim, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade
Acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo
Sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim 


Ouça uma bela versão instrumental da música com Sivuca e a Orquestra Sinfônica da Paraíba


Há quem associe a letra a ideais políticos. Em especial quando ela diz: "(...)Pra lá desse quintal era uma noite que não tem mais fim(...)", como se falasse sobre a sombra da Ditadura. Há ainda o verso: "(...)E você sumiu no mundo sem me avisar(...)" - como se fosse uma citação às vítimas desaparecidas do regime. 

Mestre Buarque não confirma.

E a Elizeth, pasmem, não gravou. Coube a Chico e Nara Leão apresentar a música, com João Donato nos teclados, Luizão Maia no contrabaixo, Meireles na flauta, Paulinho Braga na bateria e - obviamente - Sivuca no violão e na sanfona.


 Clique no vídeo acima para ouvir a gravação original de "João e Maria"

A música foi lançada por Nara Leão no álbum Os Meus Amigos são um Barato, de 1977 -  três décadas após a composição original do mestre Sivuca. Em 2012, "João e Maria" também fez parte da trilha sonora da novelinha  Carrossel do SBT.


Chico fez a letra e gravou com Nara; Sivuca compôs a melodia ainda adolescente

E a gente continua se sentindo criança até hoje toda vez que a escutamos.

Principais fontes: Blog Por Trás da LetraBlog Obvious
Pesquisa: Robson Leite






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