A HISTÓRIA DE "LANTERNA DOS AFOGADOS": Um bar à beira-mar

 

Paralamas na capa do disco Big Bang

Lanterna dos Afogados foi gravada pela primeira vez para o álbum Big Bang (1989) dos Paralamas do Sucesso. Com letra e melodia de Herbert Vianna, ela tem inspiração na obra de Jorge Amado. O título vem de um dos capítulos do livro Jubiabá (original da Editora José Olympio - 1935). É nele que aparece o bar Lanterna dos Afogados, fictício, localizado no cais do porto em Salvador/Bahia. 

No site Histórias da Bahia consta que "(...) O (bar) Lanterna dos Afogados era (...) um local cheio de vida e uma encruzilhada por onde circulavam tipos representativos da mais autêntica cultura popular baiana a conviver com pessoas distintas, inclusive estrangeiros de passagem, que talvez jamais retornassem (...)"

 


 
O estabelecimento só existe na história de Amado (primeira edição acima) e aparece retratado no traço de Carybé (também acima), um dos maiores ilustradores da história da literatura do país. 
 
 No livro, é próximo ao Lanterna dos Afogados que surgem corpos atribuídos a esses personagens - de certa forma angustiados, excluídos, solitários - alguns na miséria, sem ter família pra recorrer. Coincidência ou não, na fachada do bar - está no livro - existia a pintura de uma sereia que retira um... suicida!!! do mar. 

Brrrrrrrr!!!! Trágico?! Pra c... 

Mas, se quiser saber mais detalhes sobre essa trama tão macabra quanto deprê, vá ler Jubiabá. Aqui o papo é música!

O certo é que tamanha solidão e desespero acabaram marcando e inspirando Herbert a escrever um dos maiores sucessos da trajetória dos Paralamas. Já houve muitas regravações, com seis outras inserções em discos e compilações do grupo e a Lanterna acabou se tornando uma das mais pedidas pelos fãs dos caras em todos os shows. 

 

Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar

Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar
 

 

Em entrevista à Folha de São Paulo, os Paralamas do Sucesso contaram um pouco da história de Lanterna dos Afogados:

- João Barone (baterista): "É uma balada e tanto, o Herbert acertou na veia. O clima dela é muito soturno."

- Herbert: "É uma constatação da solidão e do silêncio escuro no entorno da pessoa solitária. Mencionava uma das coisas que eu li naquele momento, um livro do Jorge Amado que tinha o nome daquele bar, achei muito criativo".

- Barone: "A Lanterna dos Afogados era onde os infelizes iam afogar as mágoas." 

- Bi Ribeiro (baixista): "Ela tem um solo [de guitarra] daqueles que você não esquece."

- Herbert: "Nesse solo, durante os shows, eu fico olho no olho com o [tecladista] João Fera, na metade final do solo eu repito n vezes a mesma nota, ele vem me acompanhando com movimentos de cabeça e, quando eu resolvo o solo, o sorriso que ele dá e os sinais de positivo que ele faz são muito bonitos."  

  

Para a revista Vinho Magazine, Herbert Vianna revelou ainda que a música surgiu em 10 minutos, enquanto andava de moto com sua namorada:

- "Certa vez, saí com minha namorada para jantar. Sentei na moto, ela começou a conversar, mas pedi que ela não falasse mais nada, porque estava com a melodia e a letra na cabeça. Quando chegamos ao restaurante, em Ipanema, o garçom veio saber o nosso pedido. ‘Papel e caneta, rápido’, foi o que eu pedi. Naqueles dez minutos de moto, da minha casa até o restaurante a música foi composta" - declarou o compositor.

Em 1990, a versão original fez parte da trilha-sonora da novela Rainha da Sucata, da Rede Globo, como tema da personagem Ingrid. Em 1999, novamente a versão original fez parte da trilha-sonora da novela Louca Paixão da Rede Record.

Lanterna dos Afogados fez parte de uma campanha da Nextel chamada Música Sem Limites com Herbert Vianna", onde os participantes deveriam fazer um vídeo cantando uma versão de Lanterna para concorrer a guitarras autografadas pelo próprio Herbert.

A música já foi regravada por grandes artistas. Ah! e o Fresno. Cássia Eller foi a primeira, em 1994.

 


 

Três anos depois, Gal Costa também incluiu a música em seu álbum acústico para a MTV. Em 2009, a gravação com o Fresno fez parte da trilha sonora da soap-opera Malhação, como tema dos personagens Maria Cláudia e Alê. A com Maria Gadú voltou ao seriado teen em 2012, como tema da personagem Lia.

Um som que atravessa gerações mantendo a beleza e o mistério. Uma canção para sempre. 


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