Este blog se preocupa muito em ir além das canções.
Eu quero sempre encontrar o fator humano que inspira, transformando pensamento em arte. Mas o que uma música significa pra gente? Qual a essência que nos comove tanto? Onde ela consegue chegar? Muito mais importante do que entender sua história é o que representa a palavra, a melodia, dentro da vida de cada um. O bastidor é mais um temperinho, uma curiosidade, que não pode - ou não deve - conflitar com a emoção que sentimos ao escutar a obra.
Dito isso, vejam O Segundo Sol.
Composição de Nando Reis, de meados de 1997, a música estava guardada para um álbum solo que o cara, então nos Titãs, planejava pro futuro. Estava no famoso caderninho que Nando tem até hoje, com ideias, recados, temas, poemas etc. E letras prontas, obviamente. O caderno é mencionado na canção Resposta, cuja história já foi contada aqui.
Acontece que quando Cássia Eller teve acesso a esse famoso caderninho, ela simplesmente pirou com O Segundo Sol. E não se fez de rogada. Anunciou aos quatro ventos: "Eu vou gravar!!!". Nando Reis tentou dissuadi-la, dizendo que tinha planos praquela composição. Não foi suficiente. Cássia bateu pé e levou a melhor. Estava roubada e pronto. Seria incluída no próximo disco da cantora. E quem iria fazer a produção artística? O Nando Reis!
Dito e feito.
O Segundo Sol brilhou pela primeira vez no álbum (Com Você) Meu Mundo Ficaria Mais Completo (1999). Aquela com a Cássia Eller cabeludona e de calcinha na capa.
Este preâmbulo foi só pra mostrar que as coisas nem sempre acontecem como o planejado em se tratando de música. O Nando contou esse caso várias vezes, mas eu achei um depoimento bacana, resumidinho, pro pessoal do PodPah.
É de Agosto de 2021.
A letra de O Segundo Sol surgiu graças a um momento quase escroto do compositor. Isso se não o foi - afinal, não estávamos lá pra ouvir, não há testemunho disponível além o do próprio. Mas pela reação posterior que gerou em Nando Reis, certamente passou do bom tom. Ele conta isso em um depoimento no canal pessoal que mantém no YouTube e que estará aqui disponível em sua íntegra.
Nando conta que o hepicentro desse terremoto está numa conversa com uma amiga esotérica. Ele, um interessado em astronomia, em dado momento, levou um choque. A amiga disse que um segundo sol estava a caminho da Terra. Que toda a comunidade esotérica estava esperando o fenômeno, mostrando-se surpresa de que ele estivesse desavisado. Chocado, a primeira reação do compositor - como disse, um homem da ciência - foi de descrença total e de ironia. Algo do tipo: "- Como uma coisa dessas está acontecendo e a NASA não está sabendo?!"
O desdém, no entanto, remoeu as entranhas do cara. Nando realmente se sentiu muito mal em ter dado uma resposta babaca daquela pra amiga. Como se ele fosse alguém superior, mais capacitado e, por isso, ela merecia aquela resposta intempestiva. A inspiração pra música nasceu quase como um pedido de desculpas, embora representasse mais do que isso. Era como ele se reposicionasse. Essa história tá contada neste vídeo abaixo.
É longa, eu resumi.
Percebe-se que há sempre uma segunda óptica, um outro ponto de vista pra tudo. Um real segundo sol, levando sua luz pra outras possibilidades.
Quem sabe você sempre achou que fosse outra coisa, outro significado, que talvez sua leitura fosse totalmente diferente. Veja bem! Essa é a explicação do artista. Mas a do público também vale. Como não?! É o público, o fã, que ouve, que traz pra si, que abraça a arte. À luz da poesia, quantos sóis são necessários pra gente chegar a um denominador comum sobre o que soa algo tão universal? Nando Reis diz no mesmo depoimento que esse era o sentimento que o movia. Mas não é único pra definir sua composição. A expressão artística não pede legenda. É a gente que dá. O resto é firula.
Curiosidade pura.
Texto e pesquisa: Robson Leite
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